quarta-feira, 1 de maio de 2019

DESENHAR! HÃ? - A PESSOA EM DESENVOLVIMENTO


LEITURA A – A PESSOA EM DESENVOLVIMENTO
Uma afirmação quase hegemônica entre muitos autores que estudam e pesquisam o assunto, é que o ser humano tem dois tipos distintos de crescimento durante a vida: um é o biológico que vai do nascimento até a morte e, o outro, é o cultural que acontece em estágios, fases ou crises. A palavra crise parece demasiadamente forte e sugere catástrofes para descrever o que acontece. Talvez, saltos desenvolvimentais possa transmitir bem o sentido do processo, mas, transição parece ser a palavra mais adequada, pois é quase impossível estabelecer medidas exatas. Para isso, existe uma média de referência para o desenvolvimento do ser humano. Essa evolução realmente ocorre em transições ou saltos entre períodos de estabilidade e equilíbrio, sempre em ocasiões onde há mudanças de um papel para outro. De bebê para criança; de criança para adolescente; de adolescente para adulto independente; de adulto jovem para o adulto de meia idade até  o estágio da velhice e a preparação para a morte. Cada uma dessas mudanças de papel gera uma espécie de crise existindo paralelos notáveis no modo como crianças e adultos reagem. Muitas vezes a uniformidade de comportamentos e habilidades adquiridas anteriormente dão a impressão de não servirem para nada. E, mesmo, desorganizadas e emocionalmente perturbadas isso não pode ser caracterizado como doença, pois está acontecendo uma transição. A pessoa está crescendo. Tanto no mundo infantil ou no universo cultural do adulto acontecem transições que podem originar conflitos no processo de aquisição e construção do conhecimento. É um processo que envolve vivenciar, organizar, operacionalizar, elaborar e projetar, construir e destruir em busca de novas configurações. Desconstruir para reconstruir. Transformações estruturais e a conjunturais. O caos e a ordem se alternando. Talvez o ser humano crie e recrie porque necessite disso existencialmente. "Pensamos que o criar, tal como o viver, é um processo o existencial", afirma a pintora e arte educadora Fayga Ostrower. A criança é em essência um ser multimídia enquanto mescla suas manifestações expressivas. Canta ao desenhar, pinta o corpo ao representar, dança ao cantar, desenha e o ouve histórias, representa e fala ao mesmo tempo. "O verdadeiro limite do desenho não implica de forma alguma no limite do papel, nem mesmo pressupondo margens", escreveu o Mário de Andrade da Semana de Arte Moderna de 1922. A linguagem do desenho, para ser universal, não é só copiar formas e figuras. E, também não é só desenhar em escala e proporções exatas. Requer uma postura íntegra e uma intenção pois a visão parcial só revela um conhecimento parcial. Desenhar é conhecer amplamente representando o lúdico, o artístico, o científico ou o técnico sobre uma superfície, por meio de linhas, pontos e manchas. Além disso, o desenho lida com elementos do tempo e do espaço enquanto reúne passado, presente e futuro. O passado na memória, o presente na observação e o a futuro na imaginação. Imaginar, vem de imago que significa imitar representando o ato mental de projetar e antever. No desenhar está implícita uma conversa entre o pensar e o fazer. O imaginar.


TRANSIÇÕES NO DESENVOLVIMENTO DA PESSOA

DO NASCIMENTO AOS DOIS MESES. Os recém-nascidos têm um amplo repertório de reflexos
úteis à sua sobrevivência e têm boas habilidades perceptivas. Parecem funcionar na base de reflexos. Um bebê consegue sugar com grande eficiência e comunicar seu desconforto. É uma criatura muito sociável. Sorri e permanece em alerta a maior parte do tempo. Olha para as coisas de acordo com suas próprias regras numa ordem cósmica onde o tempo é percebido somente como dia e noite. Olha para contornos e bordas sem passear os olhos pelo que vê. Pois isso só vai acontecer perto da oitava semana quando a criança ainda bebê começar a se movimentar de um lado para outro e a desenvolver a confiança ou a desconfiança em relação às pessoas que estão perto. A relação com a mãe é de vital importância e quase uma questão de sobrevivência.

DOIS A DEZOITO MESES. Geralmente aos oito meses a criança já alcança coisas e precisa ser vigiada constantemente. Faz pressão para ser independente ao mesmo tempo que se prende à mãe. E isso pode ser uma combinação desconcertante. Logo depois começa a engatinhar e dá início à linguagem
falada. Primeiro são palavras isoladas, depois sentenças de duas palavras. Gu-gu da-da. A criança agora está fisicamente mais preparada e parece já ter desenvolvido conceitos primitivos através de suas explorações e experiências com pessoas e coisas que a cercam. Nessa idade a criança ainda é dominada por ligações afetivas fortes com quem lhes é significativo. Essas pessoas lhe são a base de segurança para uma exploração ainda mais ampla do mundo.

18 MESES. Época em que a criança estabelece relações de aprendizagem e atitudes enquanto constrói um sentido de si mesma. É a fase do escutar, ver, tocar, manipular, cheirar e saborear. "A transição de bebê para criança geralmente ocorre por volta dos 18 meses”, lembra uma mãe, XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
saudável. As relações de confiança ou a desconfiança são processados nessa idade e uma boa resolução dessa primeira crise desenvolvimental pode se tornar indispensável para relacionamentos
posteriores com os companheiros e para solucionar reações a situações novas e geradoras de tensão que acontecem em qualquer escola. Os primeiros desenhos são as garatujas, garranchos ou rabiscos e borrões. São elaborados por volta dos 18 meses de idade e muito marcantes no desenvolvimento de qualquer criança. É o início do aprimoramento da expressão que a conduzirá não só ao desenho como também à palavra. Surgem as garatujas que brotam enchendo as folhas de papel em branco. E elas podem ser completamente desordenadas, controladas e até levar nomes. Garatujas desordenadas são aquelas em que os traços são fortuitos e a criança não se apercebe de que poderia
representar qualquer coisa com eles. Muitas vezes a criança nem olha para o que está rabiscando. Simplesmente movimenta o braço para a frente e para trás; para cima e para baixo, pois ainda não desenvolveu um completo controle muscular. Enquanto se encontrar nessa fase da garatuja desordenada, fazer um desenho de algo real é inconcebível. Tais tentativas seriam como obrigar um bebê, que apenas balbucia, a pronunciar corretamente as palavras. Nessa fase a criança ainda não tem o controle visual sobre as garatujas, logo, ainda não é hora de tarefas que requeiram controle motor fino de seus movimentos.

DOIS ANOS. As garatujas controladas, que aparecem aproximadamente aos dois anos de idade, são aquelas em que a criança percebe que há uma ligação entre os seus movimentos e os traços que faz. As linhas agora são repetidas. Indo e vindo. Agora é a hora de levar a colher à boca sem acertar a testa. A criança poderá passar horas garatujando. Ficará tão fascinada com essa atividade que certamente a estenderá para paredes, móveis e piso.

TRÊS ANOS E MEIO. Aos três XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX desenhar um quadrado. Faz garatujas com nomes e por volta dos três anos e meio, abre nova etapa. É quando afirma ao mostrar "Essa é a mamãe" ou "Aqui sou eu pulando" Sem contudo ser possível se reconhecer nem transferir seu pensamento cinestésico para o pensamento imaginativo. É uma época onde a criança começa a ter
vergonha. Surgem as dúvidas pois agora, já cumpre horários e tem uma disciplina moderada para chegar a hábitos higiênicos saudáveis. É a fase anal relacionada com o controle do reter e soltar as fezes. Entra em cena a figura do pai. Influenciada por essas experiências os desenhos não mudaram muito, mas, agora já começa com alguma ideia antes do que vai fazer. Diz que vai desenhar um gato ou um pássaro. Contudo ainda não tem uma noção exata ou preconcebida do aspecto final. Para a criança uma linha traçada no alto da folha de papel poderá ser um galho de árvore, mas talvez termine recebendo um nome diferente antes que o desenho seja concluído. Esses movimentos circulares e traços podem parecer destituídos de sentido para os adultos mas têm uma importante significação real para a criança que desenha. Nessa fase os adultos não devem tentar descobrir alguma realidade visual nesse conjunto ou dar sua própria interpretação. Qualquer mal entendido entre seus pais professores ou outra pessoa significativa para a criança ao insistirem para que encontre algum nome ou explicação para o que foi por ela rabiscado pode originar um trauma na construção de sua personalidade.

QUATRO AOS CINCO ANOS. É uma fase completamente lúdica e plena de brincadeiras. É assim que a criança se relaciona com o mundo. A família continua importante para ela. Imita, brinca e faz de conta. Pode passar horas só sem precisar de sócios nas brincadeiras. Chegou a um certo equilíbrio cognitivo e já adquiriu habilidades pré-operacionais que são base para o domínio das operações concretas que virão a seguir. Então, dos dezoito meses aos seis anos é um período onde XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX descontraída fase do pré-escolar. Durante essa fase a criança precisa
de tempo para desenvolver novas habilidades e consolidar as já adquiridas. Esse processo é facilitado com a ajuda de professores e a companhia de colegas de mesma idade onde ela descobre todo um novo e fascinante território que pode durar anos para mapear e explorar inteiramente. É a fase onde a criança ganha autonomia para fazer e o tentar fazer. Começa a se preocupar com a vergonha de errar alguma coisa. É o período onde testa sua capacidade de iniciativa enquanto o mundo se amplia com as novas habilidades linguísticas e cognitivas o que lhe possibilita manter outros contatos. A criança descobre o "eu". Agora compreende que ela existe como uma entidade física contínua.

CINCO AOS SETE ANOS. A criança usa a memória. A transição nessa idade começa a ser percebida quando a criança começa a se interessar por operações de memória e assim entende as novas relações entre pessoas e objetos. Na escola as crianças aprendem a obedecer regras. Mas, quando essa adaptação é forçada geralmente ocorrem efeitos colaterais como resfriados, dormir mal, perder ou ganhar peso e outras complicações resultado de uma baixíssima autoestima.

SETE ANOS. A criança inaugura sua fase pré-esquemática. Agora a forma é consciente e parece ser a última etapa das garatujas. Os traços já mostram objetos visuais. É percebido o objeto concreto. A
criança organiza suas relações com o meio. Desenha árvores, nuvens, casas, carros e a figura humana. Um círculo indicando a cabeça e duas linhas verticais para as pernas. Essas representações de cabeças-pés também são comuns em algumas crianças de cinco anos. O curioso é que elas não desenham alguém parado à sua frente, mas talvez a si próprias, imaginando de dentro, uma bola para a cabeça e, nela grudados, braços e pernas. Certamente é a XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
é o lugar onde se come e se fala logo, o processo de pensar ocorre na boca. E sem dúvida, os olhos
ouvidos e nariz fazem da cabeça o centro da atividade sensorial.

SETE AOS NOVE ANOS. Já entrando na fase esquemática, a criança adquire o conceito definido do seu meio. O desenho é considerado como um esquema ou símbolo de um objeto real. Alguns esquemas podem ser um misto de vista frontal e de perfil, ou seja, um desenho visto de frente e de lado ao mesmo tempo, tipo aos desenhados nas paredes internas das pirâmides do antigo Egito.

 AOS NOVE ANOS. O desenvolvimento cognitivo é notável pois a criança passa das operações concretas primitivas ao pleno uso da lógica indutiva. Adquire instrumentos e conceitos acadêmicos vitais como a leitura, a escrita, a matemática básica e a sexualidade. A criança consolida tudo que aprendeu na fase pré-operacional, chega a uma determinada independência e já pode andar de ônibus sozinha para ir à escola e voltar para casa. Manipula e faz coisas complexas como construir pipas ou mesmo cozinhar enquanto se ajusta ao mundo tecnológico muitas vezes operando ferramentas complexas
como computadores. Toma gosto pelo trabalho, tem atenção firme e perseverança. Desenvolve ações sociais significantes com os vizinhos que moram perto de casa. É o momento onde a criança se
identifica com os elementos da ordem social e já tem o domínio da cultura vigente ou, inversamente,
pode vir a se sentir inferior, alienada, rejeitada e passiva quando não encontra seu espaço social.

NOVE AOS 12 ANOS. É o alvorecer do realismo e início da idade da turma. A criança descobre que é membro da sociedade. É a idade dos trabalhos em grupos, das amizades e dos bandos. Época apropriada para murais e painéis feitos em grupo.

12 AOS 14 ANOS. É a fase da puberdade ou pré-adolescência. Os pêlos crescem junto com o amadurecimento sexual. É um período de grandes diferenças individuais e notórias mudanças físicas. Os hormônios do crescimento e sexuais são produzidos em altas doses pelo organismo e esses impulsos que estavam em repouso agora explodem. O adolescente já se sente adulto o que em determinadas culturas isso é normal, pois já tem responsabilidades e liberdade sexual. Mas no modelo cultural que vivemos isso não se dá nesse mesmo período. Então há um aumento da tensão durante essa transição pois geralmente os jovens se sentem altamente atraídos pelo sexo oposto e automaticamente são reprimidos pelos modernos valores sociais. É o fim da arte como atividade espontânea e o início do período do raciocínio. Entra a crítica de suas próprias produções. É a idade da inquietação e excitação para o jovem que não pode mais ser considerado como criança. Nem criança nem adulto. Agora passa a se preocupar com o aspecto que tem, como se veste, com o que fala e principalmente, está interessado em descobrir como parece para os outros. Investiga sua própria personalidade. Poderá rir e chorar ao mesmo tempo, sem inibições. Um adulto que agisse assim seria considerado, no mínimo, louco e insano. No desenho expressa o realismo na representação da figura humana. Aparecem as dobras das roupas, as luzes e as sombras marcando a geometria do corpo humano. Surge a caricatura dos professores, pais e colegas numa crescente vontade de exprimir detalhes. Nessa fase pseudonaturalista, uma das incumbências mais difíceis de um jovem talvez seja desenhar a si próprio. Se ele mesmo tem orelhas grandes pode ser que as exagere ou as suprima totalmente, ao mesmo tempo que as orelhas possam se converter no ponto central da ridicularização caricatural. A arte não é mais uma matéria no programa escolar; na XXXXXXXXXXXXXX expressão do aluno na sua totalidade.

POR VOLTA DOS 13 ANOS geralmente é o período da decisão. O desenho é consciente mas ainda é executado da mesma maneira que vinha fazendo nos últimos anos. Agora é a hora do acréscimo de técnicas gráficas ao desenho pois a arte está no mundo, nas paredes, painéis, roupas, embalagens, livros, vídeos, história em quadrinhos e em muitos outros meios de comunicação e informação.

ADOLESCÊNCIA. DOS 14 AOS 21 ANOS é uma fase de tempestades, tormentas, revoluções e tensões. Agora o jovem vive uma crise psicossocial onde necessita de uma identidade enquanto tenta divulgar essa personalidade em construção. Precisam de ídolos e modelos. É a época do rock and roll e a arte agora já é consciente. É o despertar ideológico pois tem que considerar o futuro além de lidar com o presente. Testa o autoconceito que agora deve fazer face às futuras demandas de sobrevivência na vida adulta. Deve encontrar uma ocupação que se ajuste ao que ele sabe sobre si mesmo e ao que é valorizado pelos outros. Fazer uma escolha envolve reexaminar pressupostos e questionar valores. Tudo se constitui numa tarefa tão dura que muitas dessas questões de identidades são resolvidas somente ao final da adolescência ou da juventude, já na transição para a vida adulta. Para a maioria há uma progressão de um período difuso de não-questionamento para outro de questionamento e dúvidas até uma etapa final de realização e identidade. Em geral essas questões são pelo menos temporariamente resolvidas. Existem jovens que se esquivam dessa progressão e optam pelos valores e estilos de vida dos próprios pais sem argumentar ou questionar, perpetuando assim, modelos. Vivenciar essa progressão, chegando a uma identidade independente, é garantia de probabilidade de êxito e níveis de excelência na atividade escolhida para viver em sociedade. Para muitos autores, o jovem deve passar por um período de desequilíbrio, questionar os
sistemas existentes e buscar novos valores a fim de alcançar formas mais elaboradas de desenvolvimento ético e moral e, finalmente, chegar a uma verdadeira identidade individual ou pessoal. Todo esse processo é envolvido por tempestades e furacões XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX três anos anteriores, se não desenvolver seus dons artísticos.

A TRANSIÇÃO DOS 21 ANOS. Da juventude à idade adulta é um período de demarcação imprecisa. Não aparece muito nitidamente onde começa e onde termina. É uma transição nebulosa. Aos olhos da comunidade o jovem se torna adulto quando alcançou alguma independência da família e algum compromisso com uma ocupação ou padrão de vida. E a época dessa transição também varia. Depende da circunstância do jovem ir ou não para a universidade, viver em uma residência separada dos pais, ter um trabalho producente ou outra variável significativa. Em geral nesse período da vida ocorrem três mudanças importantes: A primeira, é quando o jovem alcança algum tipo de identidade profissional e assume sua ocupação. Começa a exercer uma profissão. A segunda, quando há mudanças envolvidas em se viver separado da família. São adaptações que envolvem desde aprender a cozinhar até pagar as contas de água e luz. A terceira é a importante mudança representada pelo acasalamento ou por acordos de longo prazo semelhantes a um casamento, ou ainda, como uma simples vida em comum.

DOS 21 AOS 40 ANOS. O princípio da vida adulta é ainda mais difícil de se estabelecer uma marcação de quando começa realmente. Os períodos se tornam mais longos e as transições nebulosas e imprecisas. As mudanças não ocorrem em idades específicas, variando conforme o meio em que a pessoa vive e sua posição social. Isto é, se ela está situada na classe operária, na média ou na alta. Fisicamente, para muitos, a idade dos 40 é a primavera da vida. Entretanto, parece haver duas importantes tarefas que os adultos devem enfrentar nesse período: amar e trabalhar. O adulto precisa enfrentar as atividades de amar e trabalhar. Convivem a intimidade dos relacionamentos num momento e, no outro, todo um trabalho em consolidar uma carreira profissional. É o crítico período que coincide com o nascimento dos filhos. As evidências sugerem que se alguém for bom numa delas provavelmente será bom na outra. "O sucesso no trabalho em geral depende do sucesso no amor". Diz a sabedoria popular. Cada estágio, cada tarefa é construída sobre a que a precedeu. Quando uma parte da tarefa anterior fica inacabada, o adulto terá que carregar como um excesso de bagagem na tarefa seguinte.

Autorretrato do artista uruguaio Joaquin Torres Garcia


A TRANSIÇÃO DOS 40 ANOS. A crise da meia idade é também mais uma transição nebulosa e vaga sendo desencadeada não por mudanças fisiológicas ou cognitivas, mas por um novo conjunto de mudanças que dependem se a pessoa casou e teve ou não filhos; se a carreira estagnou ou decolou; se ainda vive com os pais ou não e, se a pessoa sente algum declínio físico. Para muitos adultos, o acúmulo dessas e de outras mudanças leva a um novo período de dúvidas. Por volta dos vinte e poucos anos o adulto cria uma espécie de sonho ou fantasia do que será feito de suas vidas e começam o árduo trabalho para isso. Por volta dos 40 anos fazem uma autoavaliação que pode levar a uma sensação de perda ou fracasso. "O que fiz da minha vida e o que desejo fazer com o resto dela?” são questionamentos comuns característicos da crise da meia idade.

Autorretrato do desenhista Moebius


DOS 40 AOS 70 ANOS. É um enorme período, com muitas mudanças, inclusive sendo amplas as diferenças individuais. Cedo ou tarde ocorrem mudanças nos olhos, ouvidos, velocidade sináptica e outras tantas. Por exemplo, as pessoas se permitem exprimir uma série de sentimentos e comportamentos que tinham estado submersos durante toda a vida adulta. Se tornam mais equilibradas, andróginas e menos apegadas a padrões sexuais estereotipados em relação ao comportamento e atitudes. Isso é resultado de novos padrões hormonais associados. As mulheres passam a ter menos estrógeno e os homens menos testosterona. Talvez, biologicamente fiquem
mais parecidos hormonalmente um com o outro. Vários autores, em entrevistas extensas com adultos nessa faixa de idades são unânimes em afirmar que para muitos adultos esta é uma época de muita paz. Depois que os filhos cresceram, se foram, depois de enfrentar sérios problemas, dúvidas, autoexames da transição da meia-idade, pressão de obter sucesso na carreira e, que até um certo padrão de vida confortável, tenha sido criado chega o momento de desfrutar. É uma fase de satisfação tanto conjugal quanto com o trabalho. Passa a existir o prazer. Para muitos, um renovado auto questionamento sempre acompanha essas mudanças de papéis e de status. É o estágio da integridade do Ego ou, inversamente, do desespero. É o resultado e a aceitação final do que a pessoa fez e foi para aquilo em que agora se transformou. E essas questões não se resolvem rapidamente e podem, não raro, permanecer como elementos sempre presentes na memória. Em torno dos 70 anos é comum pessoas terem mais amigos do que os adultos de meia idade. E essas interações sociais são muito significativas para a continuação da saúde física e mental. Geralmente as pessoas vão ficando mais introvertidas e menos envolvidas com relacionamentos à medida que envelhecem. Os adultos se adaptam ao envelhecimento de forma relativa ao estilo de vida e, com a resolução das crises anteriores. Alguns indivíduos experimentam um envelhecimento físico acentuado bastante cedo na vida enquanto para outros isso só é perceptível muito mais tarde.



DESENHAR! HÃ? - LEITURAS


6.       LEITURAS

LEITURA A – DESENHAR! HÃ? apresenta um resumo sobre a manifestação do desenho nas várias fases de uma pessoa em desenvolvimento. Isto é, valores adquiridos na vida de uma pessoa comum, desde seus primeiros dias de vida até a vida adulta e a velhice. Tudo numa média, já que é muito difícil mensurar exatamente onde começa e onde termina cada uma dessas transições, mesmo num
grupo homogêneo.

LEITURA B - DESENHAR! HÃ? aborda alguns aspectos relativos sobre a formação da moral e dos valores adquiridos durante a vida de alguém, desde quando nasce até chegar na longa e duradoura fase da velhice em paz. Qualquer tropeço em qualquer fase durante a vida resulta em mudança considerável ao final.

LEITURA C - DESENHAR! HÃ? descreve uma breve história sobre a origem dos quadrinhos e do desenho animado incluindo a cronologia dos grandes inventos que resultaram num avanço da arte do desenho.

LEITURA D - DESENHAR! HÃ? resume a construção do desenho animado e filmes de animação.

LEITURA E - DESENHAR! HÃ? expõe alguns aspectos sobre a teoria da cor a ser aplicada em desenhos. As características do desenho no papel, em vídeo e cinema.

LEITURA F - DESENHAR! HÃ? mostra ficção, folclore, lendas, especulações e mitos para o desenvolvimento de assuntos em roteiros. Sugere algumas ideias sobre fatos históricos e temas políticos, recolhidos de matérias veiculadas em jornais, canais a cabo e as convencionais de televisão, para serem utilizados e desenvolvidos em roteiros de histórias em quadrinhos e desenhos animados. Isso tudo para questionarmos o mais importante: "Por quê, para quem e como vamos trabalhar? Hein cara pálida?"

LEITURA G - DESENHAR! HÃ? resgata de outras publicações um conjunto de medidas e regras usadas por desenhistas e pintores para uma média de proporção e construção gráfica do desenho da figura humana



DESENHAR! HÃ? - CRONOLOGIA


5.       CRONOLOGIA DE ACONTECIMENTOS QUE INFLUENCIARAM A LINGUAGEM DO DESENHO


Aproximadamente a 30 mil a.С. foram desenhados signos e figuras em grutas paleolíticas. Por enquanto são os primeiros registros do homo sapiens.

Cinco mil anos a.C. é o tempo provável da existência de algumas esculturas pequenas de barro encontradas numa região onde eram a Suméria e Babilônia.

Por volta de três mil a.С. os egípcios se divertiam com desenhos de animais e grafismos pintados em paredes e papiros.

No ano de 1550 a.C. já existiam: o Livro dos Mortos do Egito, a Grécia, Roma, Bizâncio e o lendário Cavalo de Tróia.

256 а.С. surge na China o primeiro pincel feito com pelos e bambu.

46 - o incêndio destrói a biblioteca de Alexandria.

105 - a China inventa o papel.

400-o nanquim aparece na China.

600 - blocos de madeira são usados para imprimir tecido.

726 - aparece o mosaico bizantino.

900 - inicio da fabricação artesanal do papel.

1100 - papel é fabricado no Marrocos.

1152 – papel é fabricado na Espanha.

1256 - papel é fabricado na Itália.

1296 - um papa católico desejando fazer algumas decorações na Igreja de São Pedro, pediu a vários mensageiros para percorrerem a Itália e assim convidarem os melhores pintores para virem a Roma. Um deles entrou na cabana de um pintor camponês, na Toscana, pois ouvira dizer que ali morava um artista rústico, alegre e extravagante que dividia seu tempo entre o pincel e o arado. Diziam que pintara algumas lindas paisagens. "Sua santidade está chamando todos os artistas. Ele gostaria de examinar o seu trabalho, grande Giotto", disse o mensageiro, que continuou: "Poderemos ver os seus quadros e assim decidiremos quais vamos levar para
mostrar em Roma." Giotto deu uma gargalhada. Enquanto isso mergulhou vigorosamente um pincel num pote de tinta vermelha e com um traço firme, porém negligente, riscou um enorme círculo num pedaço de papel e entregou-o ao mensageiro. "É esse o meu trabalho. Veja. Gosta?", disse. "Que absurdo é esse? Estou aqui numa missão séria." esbravejou o mensageiro, mas mesmo assim, a contragosto, acabou levando a pintura do circulo. Já em Roma, depois de apresentados os trabalhos de todos os outros pintores, o mensageiro falou: "Este trabalho é de um tal Giotto. É um tolo pretensioso, Foi-lhe oferecida uma grande oportunidade e o que ele fez foi apenas este grande círculo vazio." "Diga-me uma coisa, ele teve muita dificuldade no traçar este círculo, sem o auxílio do compasso?", perguntou o papa num tom de curiosidade. "Não. Somente com um mergulho do papel na vasilha e este traço displicente," respondeu o mensageiro. "Bem, bem, não está nada mau este círculo. Na realidade é um círculo bem redondo. Ele deve ter um bom golpe de vista e mão muito firme para fazer isto. Que tipo de homem é esse Giotto?" perguntou. "É um camponês vulgar e feio, mas contam que sabe uma quantidade de anedotas pitorescas. Dizem que pinta um carneiro numa parede ou num pedaço de madeira e como por mágica a mancha imediatamente parece ganhar vida. Mas decerto só os camponeses pensam assim", gaguejou o mensageiro. "Os camponeses sabem o que falam. Eu próprio já ouvi histórias semelhantes sobre esse homem. Quando criança não foi aprendiz de um grande pintor? Dizem que uma vez, enquanto saiu da sala, Giotto pintou uma mosca no nariz de um dos retratos do mestre, que tentou tocá-la quando voltou. É filho de um ferreiro que pastoreava rebanhos de ovelhas nas colinas em Mugello que são muito verdes e o povo de lá bastante simples. Mas de tempos em tempos surge entre eles um homem de visão. Esse homem poderá nos entreter, se não for com seu gênio, ao menos com seus gracejos rústicos. É bom que venha logo!", disse o papa cristão.

1300 - Giotto entra para a História com suas pinturas.

1374 - lay out da primeira bíblia católica e outras publicações com matrizes em xilografia.

1400 - sistemas de desenho e perspectivas são estudados na Europa.

1422 - pinturas a óleo fazem a fama de Van Eyck.

1452 - Nasce Leonardo, na cidade de Vinci, na Itália. Gutemberg inventa os tipos móveis.

1474 - a bíblia de Gutemberg é impressa e entra para a História da civilização moderna.

1498 - o pintor Alberto Durero, nascido em 1471 em Nüremberg na Alemanha, consegue uma posição social elevada com a publicação de xilografias sobre o apocalipse.

1500- época do Renascimento e de grande ebulição cultural na Europa. Expoentes como Miguel Ângelo, Holbein, Durero e Leonardo da Vinci. Os portugueses, a maioria católicos, chegam ao Brasil para conquistar e catequizar os índios tupis.

1519 - a câmara escura foi inventada para facilitar e deixar mais realistas as pinturas de paisagens e para o estudo da perspectiva.

1576 - o papel é fabricado na Rússia.

1620 - Whilhelm Blaew, em Amsterdam, fabrica o primeiro prelo, base para futuras impressoras.

1654 - Kircher inventa a lanterna mágica que movimenta sombras de desenhos.

1690 - papel é fabricado industrialmente nos EUA.

1777 - Francisco Goya é pintor influente na Espanha.

1789 - a Revolução Francesa-mudou o sistema de governo da França. A burguesia tira o poder da monarquia assume e proclama a república através do sufrágio universal, ou seja, o voto. O burguês, indivíduo que sempre se caracterizou por não exercer trabalho braçal ou artesanal, agora governa. Mais do que nunca precisa de alguém para executar as tarefas corriqueiras. Obriga a divisão do trabalho enquanto o "por favor" e o "graças a deus" se transformaram em palavras de uso hegemônico, tanto para abrir ou para fechar frases. O relógio passa a contar o tempo de trabalho do outro que é a fonte de suas porcentagens e lucro. Negar o ócio, fazer um negócio, na defesa e multiplicação do que acumularam com o trabalho dos empregados parece ser o único desconforto na doce vida burguesa.

1796 - na França, o retratista Nicolas Santiago Conté, na falta de grafite para desenhar por causa de uma guerra com a Inglaterra, prepara uma mistura de pó de grafite e argila derretida aplicada num canal feito no interior de um pedaço de madeira de cedro. Assim inventou o lápis, que ele mesmo numerou: 1, 2 e 3 de acordo com a maior ou menor dureza do grafite.

1811 - Friedrich Köenig, nascido na Alemanha, constrói com André Bauer a primeira impressora cilíndrica para o Times, nos EUA, produzir 800 folhas por hora.

1820 - o pintor Goya lança uma série de gravuras sobre as conseqüências das guerras na Espanha.

1822 - na França, a primeira fotografia com Niepce.

1829-Claude Genoud inventa a estereotipia que possibilitaria a impressão em alta velocidade.

1834 - nasce em Paris, Edgar Degas que entra para a História pela qualidade de suas pinturas de bailarinas, mulheres desnudas, gente de teatro, music hall, ambientes de ballet e de circo.

1839 - nasce na França o pintor Paul Cèzanne.

1840 - o alemão Göttfried Keller descobre o processo de fazer papel a partir da polpa de madeira.

1843 - Lapierre, na França, inventa uma lanterna mágica que projeta sombras e efeitos óticos.

1847 - o americano Robert Hoe aperfeiçoa a máquina rotativa de Köenig e roda o jornal Philadelphia Ledger com uma produção de dez mil cópias por hora.

1847 - na França, Gustave Doré lança álbum com ilustrações com o mito dos trabalhos de Hércules.

1850 - o francês Gillot patenteia o processo de fazer clichês fotográficos

1855 - Gustave Doré grava em metal reportagem sobre a guerra da Criméia ilustrada com desenhos.

1855 - fotos coloridas em estereoscópio viraram sucesso na França.

1866 - começa a funcionar um cabo submarino transatlântico ligando a América do Norte a Londres e daí para a India e o Oriente para transmissão de informações tipo telegráficas.

1867 - primeira rotativa francesa para imprimir 20 mil exemplares por hora do Petit Journal.

1870 - Nast desenha o burrinho para o partido democrático americano.

1874 - Nast desenha o elefante para o partido republicano.

1876 - Bell inventa o telefone.

1878 - fotografias instantâneas do movimento do corpo humano e de animais são feitas por Muybridge.

1878 - o fonógrafo é inventado por Edson.

1880 - é fundada a American Press Association que começa a distribuir chapas gravadas com novelas, lustrações e caricaturas para vários jornais assinantes.

1881 - as primeiras leis sobre escola pública, na França.

1882 - escola passa a ser obrigatória e gratuita na França.

1883 - lançamento do semanário Life nos EUA.

1888 - sombras chinesas de Caran d'Ache na França.

1890 - suicídio do pintor Van Gogh, aos 37 anos, com um tiro no peito.
1895 - Lumière na França inventa o cinematógrafo.

1895 - Yellow Kid, com um panfletário camisolão amarelo, desenhado por Richard Outcault para o New York World, talvez tenha sido o primeiro personagem seriado dos comics. Na época, um dos técnicos impressores do mesmo jornal, Benjamin Ben-Day, sugeriu testar a cor amarela no camisolão. Nesse momento nasciam simultaneamente: os comics como concebemos  hoje, com personagens periódicos e seriados; e o termo jornalismo amarelo para designar a imprensa sensacionalista, em busca do sucesso fácil com o público, mais popular e cada vez mais ao alcance da pessoa comum. O camisolão do kid exibia frases panfletárias ou cômicas a cada quadrinho. Todos os personagens viviam em Hogan's Alley, um típico beco nova-iorquino da época. Naturalmente o menino amarelo e sua turma eram contra o establishment. Eram de esquerda.

1904 - nos EUA George McManus desenha estórias de familia no jornal New York World.

1905 - Windsor Mc Kay cria o insuperável Little Nemo in Slumberland com altíssima e insuperável qualidade de desenho para a época. Sua perspectiva e arquitetura chegam a antever o uso das lentes grande angular, o cinemascope e as lentes de 70 mm, coisa que só recentemente a técnica conseguiu alcançar. Foi o primeiro e um dos mais completos desenhistas. Usou e abusou de todos os recursos do desenho em quadrinhos. "Talvez fosse um extraterrestre", comentou certa vez um ilustrador. A maravilhosa saga de Little Nemo foi publicada no suplemento dominical do New York Herald, entre os anos de 1905 a 1911, em formato grande a cores, de página inteira. As estórias aconteciam numa estrutura invariável onde o pequeno Nemo deitava, sonhava e quando acordava era o fim do pesadelo.

1905 - no Brasil, em 11 de outubro, começa a distribuição do primeiro número do Tico Tico, pela editora O Malho, onde a estrela é Buster Brown de Outcault, com o pseudônimo de Chiquinho.


DESENHAR! HÃ? - ASTECAS


4.   ASTECAS

Como num quadrinho essa vinheta elaborada durante a extinta civilização maia* representa a figura de um homem plantando uma árvore enquanto um outro, logo a seguir, a quebra.

*Na era das grandes navegações marítimas, o contato com o europeu, competitivo e colonizador, resultou na destruição dos maias, astecas e incas aqui nas américas.

A HISTÓRIA, NO ENTANTO, REGISTRA APENAS OS INTERESSES DOS GRUPOS POLÍTICOS E RELIGIOSOS QUE A EDITORAM.
DAÍ PERGUNTAS E QUESTIONAMENTOS?

DESENHAR O QUÊ?
DESENHAR PARA QUEM?
DESENHAR POR QUÊ?

DESENHAR! HÃ? - INTRODUÇÃO

3 - INTRODUÇÃO


Desenhar é, antes de tudo, na prática, esboçar ou registrar uma ideia apenas com lápis e papel. O desenho nada mais é do que uma útil e indispensável ferramenta na comunicação entre pessoas. Inclusive entre aquelas de diferentes lugares, origens e valores. O desenho estimula o diálogo. É um recurso gráfico sempre presente em jornais, revistas, cartazes e televisão. Por exemplo, uma simples seta pode indicar uma direção para várias culturas e a partir daí a afirmação de que o desenho é uma linguagem com assimilação universal. Tanto é que cientistas enviaram a alguns anos para o espaço sideral uma mensagem sobre a história da humanidade onde entram desenhos. Alguns sinais pintados pelos homens das cavernas ainda hoje são utilizados. E com o acréscimo de outros signos a civilização moderna vai sendo construída. A perspectiva, por exemplo, só começou a ser aperfeiçoada a uns 500 anos. Ou seja, é um processo civilizatório que começa a assimilar a técnica de um recurso gráfico para representar o efeito ótico onde os objetos mais próximos parecem maiores do que os mais distantes. Tudo para transmitir um senso de distância e solidez à representação gráfica que, no entanto, apenas sugere no papel um espaço tridimensional. É um truque que pode fazer emergir uma projeção racional e artificial do próprio desenho. "Por isso as coisas produzidas pelo homem parecem tão artificiais. Edifícios, carros, geladeiras, computadores carregam essa ação do desenho desde sua origem, no projeto. Mas nunca vamos esquecer que só com a simulação gráfica do objeto a ser construído podemos prever mais facilmente a prova final. O processo de rabiscar uma ideia original vai permitir a prova inicial de uma hipótese", declarou um estudante de desenho.



ENTER THE MARVEL


Comecei a acompanhar o universo Marvel pelos quadrinhos depois de uma de minhas idas a uma banca de jornais e revistas perto de minha casa que eu costumava frequentar para admirar as novidades em quadrinhos. Eu chamava de "a banca do véi", porque o dono era um velhinho, o Seu Raimundo. Quando eu chegava na banca, o véio devia fumaçar de raiva. Eu passava um tempão pedindo pra olhar os gibis. Eu pedia, ele pegava pra mim, eu olhava, folheava, devolvia pro véio e pedia pra olhar outra. Esse processo se repetia trocentas vezes, o véio ficava puto. Ele costumava falar: "Diga, menino que olha muito e compra pouco, o que você quer?".
O ano era 1986, eu tinha 9 anos de idade e morava em Taguatinga, Distrito Federal. Passei os olhos rapidamente em todo acervo de quadrinhos da banca e um dos gibis chamou minha atenção: a ilustração da capa tinha o Hulk segurando uma gigantesca rocha (que nem cabia na capa de tão grande) para evitar que vários outros heróis, caídos e aparentemente feridos fossem esmagados.
A revistinha custava Cz$ 5,00 (cinco cruzados), nesta época o salário mínimo era de Cz$ 804,00. Consegui a grana com meu pai, comprei o gibi e li tudo num tapa. Tinha só 32 páginas, era fininha, mas a história me prendeu. Um monte de heróis e um monte de vilões se enfrentando numa terra desconhecida por ambos os lados.  

DESENHAR! HÃ? - SINOPSE


2 - SINOPSE


Sessão de desenho de modelo vivo na casa de Art Babbitt. Arquivo pessoal de Barbara Babbit


“É interessante quando se observa um estudante de desenho, atônito, parado, congelado diante da modelo vivo e, da folha de papel em branco. Mas, aí uma mágica parece acontecer.
De repente, é aquele momento em que se percebe a complexa construção que se esconde nessa maravilhosa máquina biológica produzida pela natureza: o corpo humano.
A flexibilidade, a graça e a força muscular que deixam transparecer na epiderme, num só impulso de movimento, infinitas luzes, sombras, claros, escuros, contornos de cores, tonalidades suaves e contrastes fortes revelando, assim, a essência da expressão gráfica e a arte de desenhar.”



“Definitivamente sinto que não podemos fazer coisas fantásticas baseadas no real sem antes conhecermos o real”
I definitely feel that we can not do the fantastic things based on the real, unless we first know the real


Declarou o desenhista Walt Disney durante uma das aulas de modelo vivo, que passaram a funcionar intensamente entre os anos 1934 e 1936, nos estúdios de Burbank, em Los Angeles, nos Estados Unidos.

Fonte: www.marel.pro.br (site fora do ar)


*Nota: As aulas de desenho com modelo vivo dos animadores de Disney começaram em 1932, com um artista chamado Art Babbitt - o criador do Pateta, da Rainha Má em 'Branca de Neve', de Geppetto em 'Pinóquio' e dos cogumelos dançarinos em 'Fantasia'. Babbit, que estudava cenas de ação ao vivo para melhor ilustrar os movimentos de seus personagens, iniciou em sua casa sessões de desenho com modelos vivos nuas, onde estudava anatomia humana com Disney e sua equipe.

Texto da nota adaptado de https://www.fastcompany.com/3033246/learning-in-the-flesh-why-disney-sends-its-animators-to-life-drawing-classes, acessado em 1 de maio de 2019, às 16H40.

quinta-feira, 11 de abril de 2019

DESENHAR! HÃ? - APRESENTAÇÃO


1.       APRESENTAÇÃO
Calendário asteca com desenho central da Pedra do Sol

DESENHAR! HÃ? é uma coletânea de ideias que convergem para a expressão gráfica.
DESENHAR! HÃ?  é um documento com algumas considerações acadêmicas e outras popularescas com o intuito de facilitar o ato de desenhar, seja na construção verbal ou no próprio desenho.
DESENHAR! HÃ?  é uma metodologia sobre os rabiscos da figura humana. Uma análise rápida sobre os grafismos que registraram os primórdios da humanidade
DESENHAR! HÃ?   é uma ferramenta de orientação e utilidade para estudantes e professores de desenho, arquitetos, roteiristas, cineastas, técnicos de publicidade, cientistas, industriais da mídia e, ao leitor que tenha especial interesse pelo desenho. Facilita o diálogo durante o processo de desenvolvimento da linguagem na aprendizagem do desenho e construção da figura do corpo humano.
DESENHAR! HÃ? é uma mostra que o ato de desenhar exige poder de decisão em várias instâncias que envolvem psicologia, polÍtica, antropologia, sociologia, moda e outras.
Desenhar! Hã? é um transparecer revelador de que a construção da linha flui entre incontáveis sins e nãos na mente de quem desenha.
DESENHAR! HÃ?  é um diálogo íntimo para revelar que só se aprende desenhando. Afirma que o desenho é uma possessão no momento em que nos apropriamos do objeto desenhado.
DESENHAR! HÃ?  é transformar o ver e o assistir enquanto questionamento entre o que será ou não perpetuado no desenho. A arte do desenho vai transformar ou perpetuar idéias e valores culturais. A História mostra modificações em símbolos, signos e sinais que vão se agregando e originando outros. E, assim, o uso permanente de determinados signos garante a perpetuação desta ou daquela cultura dominante. As mais competitivas vão impondo seus gostos pessoais sobre as outras.
DESENHAR! HÃ?  valoriza a dúvida e confirma que a moderna civilização é um caldo cultural resultante das três culturas mais competitivas e dominantes: o cristianismo, o islamismo e o judaísmo. Astecas, maias, incas, índios, tribos espalhadas pela África, Ásia e muitas outras culturas, talvez possuidoras de preciosos e valiosos conhecimentos, foram forçadas a entrar num rápido processo de extinção, autodestruição ou mesmo sendo totalmente absorvidas ou engolidas.

Fonte: www.marel.pro.br (site fora do ar)


Sobre DESENHAR! HÃ?

Muito tempo atrás, publiquei um post em homenagem ao melhor professor de desenho que tive na vida: Mário Luiz Belcino Maciel, o amado por muitos e odiado por tantos outros MAREL. O post recebeu vários comentários, em um deles, escrito por mim, refleti sobre a possibilidade de ver publicado seu trabalho intitulado "DESENHAR! HÃ?", pois teria enorme valor na formação de qualquer desenhista, iniciante ou não em seu aprendizado de desenho.
Eis que tenho comigo grande parte deste trabalho impresso. Imprimi ainda em 2002 e o carrego comigo até hoje, como material de referência já que hoje sou professor de Artes Visuais. Diante da intenção de vê-lo publicado, estou digitalizando-o com um software OCR e publicá-lo-ei em partes neste blog. O pensamento do velho mestre pode incomodar muita gente, mas espero que gostem.