LEITURA A – A
PESSOA EM DESENVOLVIMENTO
Uma afirmação quase hegemônica entre muitos autores
que estudam e pesquisam o assunto, é que o ser humano tem dois tipos distintos
de crescimento durante a vida: um é o biológico que vai do nascimento até a morte e, o outro, é o cultural que
acontece em estágios, fases ou crises. A palavra crise parece demasiadamente
forte e sugere catástrofes para descrever o que acontece. Talvez, saltos desenvolvimentais
possa transmitir bem o sentido do processo, mas, transição parece ser a palavra
mais adequada, pois é quase impossível estabelecer medidas exatas. Para isso,
existe uma média de referência para o desenvolvimento do ser humano. Essa
evolução realmente ocorre em transições ou saltos entre períodos de estabilidade
e equilíbrio, sempre em ocasiões onde há mudanças de um papel para outro. De
bebê para criança; de criança para adolescente; de adolescente para adulto
independente; de adulto jovem para o adulto de meia idade até o estágio da velhice e a preparação para a
morte. Cada uma dessas mudanças de papel gera uma espécie de crise existindo paralelos
notáveis no modo como crianças e adultos reagem. Muitas vezes a uniformidade de
comportamentos e habilidades adquiridas anteriormente dão a impressão de não
servirem para nada. E, mesmo, desorganizadas e emocionalmente perturbadas isso
não pode ser caracterizado como doença, pois está acontecendo uma transição. A pessoa
está crescendo. Tanto no mundo infantil ou no universo cultural do adulto acontecem
transições que podem originar conflitos no processo de aquisição e construção
do conhecimento. É um processo que envolve vivenciar, organizar,
operacionalizar, elaborar e projetar, construir e destruir em busca de novas
configurações. Desconstruir para reconstruir. Transformações estruturais e a
conjunturais. O caos e a ordem se alternando. Talvez o ser humano crie e recrie
porque necessite disso existencialmente. "Pensamos que o criar, tal como o
viver, é um processo o existencial", afirma a pintora e arte educadora
Fayga Ostrower. A criança é em essência um ser multimídia enquanto mescla suas
manifestações expressivas. Canta ao desenhar, pinta o corpo ao representar,
dança ao cantar, desenha e o ouve histórias, representa e fala ao mesmo tempo.
"O verdadeiro limite do desenho não implica de forma alguma no limite do
papel, nem mesmo pressupondo margens", escreveu o Mário de Andrade da
Semana de Arte Moderna de 1922. A linguagem do desenho, para ser universal, não
é só copiar formas e figuras. E, também não é só desenhar em escala e
proporções exatas. Requer uma postura íntegra e uma intenção pois a visão parcial
só revela um conhecimento parcial. Desenhar é conhecer amplamente representando o lúdico, o
artístico, o científico ou o técnico sobre uma superfície, por meio de linhas,
pontos e manchas. Além disso, o desenho lida com elementos do tempo e do espaço
enquanto reúne passado, presente e futuro. O passado na memória, o presente na
observação e o a futuro na imaginação. Imaginar, vem de imago que significa imitar representando o ato mental de projetar e
antever. No desenhar está implícita uma conversa entre o pensar e o fazer. O
imaginar.
TRANSIÇÕES NO
DESENVOLVIMENTO DA PESSOA
DO NASCIMENTO
AOS DOIS MESES. Os recém-nascidos têm um amplo repertório de reflexos
úteis à sua sobrevivência e têm boas habilidades
perceptivas. Parecem funcionar na base de reflexos. Um bebê consegue sugar com
grande eficiência e comunicar seu desconforto. É uma criatura muito sociável.
Sorri e permanece em alerta a maior parte do tempo. Olha para as coisas de
acordo com suas próprias regras numa ordem cósmica onde o tempo é percebido
somente como dia e noite. Olha para contornos e bordas sem passear os olhos
pelo que vê. Pois isso só vai acontecer perto da oitava semana quando a criança
ainda bebê começar a se movimentar de um lado para outro e a desenvolver a
confiança ou a desconfiança em relação às pessoas que estão perto. A relação
com a mãe é de vital importância e quase uma questão de sobrevivência.
DOIS A DEZOITO
MESES. Geralmente aos oito meses a criança já alcança coisas e precisa ser
vigiada constantemente. Faz pressão para ser independente ao mesmo tempo que se
prende à mãe. E isso pode ser uma combinação desconcertante. Logo depois começa
a engatinhar e dá início à linguagem
falada. Primeiro são palavras isoladas, depois
sentenças de duas palavras. Gu-gu da-da. A criança agora está fisicamente mais
preparada e parece já ter desenvolvido conceitos primitivos através de suas
explorações e experiências com pessoas e coisas que a cercam. Nessa idade a
criança ainda é dominada por ligações afetivas fortes com quem lhes é significativo.
Essas pessoas lhe são a base de segurança para uma exploração ainda mais ampla
do mundo.
18 MESES.
Época em que a criança estabelece relações de aprendizagem e atitudes enquanto constrói
um sentido de si mesma. É a fase do escutar, ver, tocar, manipular, cheirar e
saborear. "A transição de bebê para criança geralmente ocorre por volta
dos 18 meses”, lembra uma mãe, XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
saudável. As relações de confiança ou a desconfiança
são processados nessa idade e uma boa resolução dessa primeira crise
desenvolvimental pode se tornar indispensável para relacionamentos
posteriores com os companheiros e para solucionar
reações a situações novas e geradoras de tensão que acontecem em qualquer
escola. Os primeiros desenhos são as garatujas,
garranchos ou rabiscos e borrões. São elaborados por volta dos 18 meses de
idade e muito marcantes no desenvolvimento de qualquer criança. É o início do aprimoramento
da expressão que a conduzirá não só ao desenho como também à palavra. Surgem as
garatujas que brotam enchendo as folhas de papel em branco. E elas podem ser
completamente desordenadas, controladas e até levar nomes. Garatujas desordenadas são aquelas em que os traços são fortuitos e
a criança não se apercebe de que poderia
representar qualquer coisa com eles. Muitas vezes a
criança nem olha para o que está rabiscando. Simplesmente movimenta o braço para
a frente e para trás; para cima e para baixo, pois ainda não desenvolveu um
completo controle muscular. Enquanto se encontrar nessa fase da garatuja
desordenada, fazer um desenho de algo real é inconcebível. Tais tentativas
seriam como obrigar um bebê, que apenas balbucia, a pronunciar corretamente as
palavras. Nessa fase a criança ainda não tem o controle visual sobre as
garatujas, logo, ainda não é hora de tarefas que requeiram controle motor fino
de seus movimentos.
DOIS ANOS.
As garatujas controladas, que aparecem
aproximadamente aos dois anos de idade, são aquelas em que a criança
percebe que há uma ligação entre os seus movimentos e os traços que faz. As linhas
agora são repetidas. Indo e vindo. Agora é a hora de levar a colher à boca sem
acertar a testa. A criança poderá passar horas garatujando. Ficará tão
fascinada com essa atividade que certamente a estenderá para paredes, móveis e piso.
TRÊS ANOS E
MEIO. Aos três XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX desenhar um quadrado. Faz garatujas
com nomes e por volta dos três anos e meio, abre nova etapa. É quando afirma ao
mostrar "Essa é a mamãe" ou "Aqui sou eu pulando" Sem
contudo ser possível se reconhecer nem transferir seu pensamento cinestésico
para o pensamento imaginativo. É uma época onde a criança começa a ter
vergonha. Surgem as dúvidas pois agora, já cumpre horários
e tem uma disciplina moderada para chegar a hábitos higiênicos saudáveis. É a
fase anal relacionada com o controle do reter e soltar as fezes. Entra em cena
a figura do pai. Influenciada por essas experiências os desenhos não mudaram
muito, mas, agora já começa com alguma ideia antes do que vai fazer. Diz que
vai desenhar um gato ou um pássaro. Contudo ainda não tem uma noção exata ou preconcebida
do aspecto final. Para a criança uma linha traçada no alto da folha de papel
poderá ser um galho de árvore, mas talvez termine recebendo um nome diferente antes
que o desenho seja concluído. Esses movimentos circulares e traços podem
parecer destituídos de sentido para os adultos mas têm uma importante significação
real para a criança que desenha. Nessa fase os adultos não devem tentar descobrir
alguma realidade visual nesse conjunto ou dar sua própria interpretação.
Qualquer mal entendido entre seus pais professores ou outra pessoa significativa
para a criança ao insistirem para que encontre algum nome ou explicação para o
que foi por ela rabiscado pode originar um trauma na construção de sua personalidade.
QUATRO AOS
CINCO ANOS. É uma fase completamente
lúdica e plena de brincadeiras. É assim que a criança se relaciona com o mundo.
A família continua importante para ela. Imita, brinca e faz de conta. Pode
passar horas só sem precisar de sócios nas brincadeiras. Chegou a um certo equilíbrio
cognitivo e já adquiriu habilidades pré-operacionais que são base para o
domínio das operações concretas que virão a seguir. Então, dos dezoito meses aos seis anos é um período onde
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX descontraída fase do pré-escolar. Durante essa fase
a criança precisa
de tempo para desenvolver novas habilidades e consolidar
as já adquiridas. Esse processo é facilitado com a ajuda de professores e a
companhia de colegas de mesma idade onde ela descobre todo um novo e fascinante
território que pode durar anos para mapear e explorar inteiramente. É a fase
onde a criança ganha autonomia para fazer e o tentar fazer. Começa a se
preocupar com a vergonha de errar alguma coisa. É o período onde testa sua
capacidade de iniciativa enquanto o mundo se amplia com as novas habilidades linguísticas
e cognitivas o que lhe possibilita manter outros contatos. A criança descobre o
"eu". Agora compreende que ela existe como uma entidade física
contínua.
CINCO AOS SETE
ANOS. A criança usa a memória. A
transição nessa idade começa a ser percebida quando a criança começa a se
interessar por operações de memória e assim entende as novas relações entre
pessoas e objetos. Na escola as crianças aprendem a obedecer regras. Mas,
quando essa adaptação é forçada geralmente ocorrem efeitos colaterais como resfriados,
dormir mal, perder ou ganhar peso e outras complicações resultado de uma baixíssima
autoestima.
SETE ANOS.
A criança inaugura sua fase pré-esquemática.
Agora a forma é consciente e parece ser a última etapa das garatujas. Os traços
já mostram objetos visuais. É percebido o objeto concreto. A
criança organiza suas relações com o meio. Desenha
árvores, nuvens, casas, carros e a figura humana. Um círculo indicando a cabeça
e duas linhas verticais para as pernas. Essas
representações de cabeças-pés também são comuns em algumas crianças de cinco anos.
O curioso é que elas não desenham alguém parado à sua frente, mas talvez a si
próprias, imaginando de dentro, uma bola para a cabeça e, nela grudados, braços
e pernas. Certamente é a XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
é o lugar onde se come e se fala logo, o processo de
pensar ocorre na boca. E sem dúvida, os olhos
ouvidos e nariz fazem da cabeça o centro da atividade
sensorial.
SETE AOS NOVE
ANOS. Já entrando na fase esquemática, a criança adquire o conceito definido do
seu meio. O desenho é considerado como um esquema ou símbolo de um objeto
real. Alguns esquemas podem ser um misto de vista frontal e de perfil, ou seja,
um desenho visto de frente e de lado ao mesmo tempo, tipo aos desenhados nas paredes
internas das pirâmides do antigo Egito.
AOS NOVE ANOS. O desenvolvimento cognitivo é notável
pois a criança passa das operações concretas primitivas ao pleno uso da lógica
indutiva. Adquire instrumentos e conceitos acadêmicos vitais como a leitura, a
escrita, a matemática básica e a sexualidade. A criança consolida tudo que
aprendeu na fase pré-operacional, chega a uma determinada independência e já pode
andar de ônibus sozinha para ir à escola e voltar para casa. Manipula e faz
coisas complexas como construir pipas ou mesmo cozinhar enquanto se ajusta ao mundo
tecnológico muitas vezes operando ferramentas complexas
como computadores. Toma gosto pelo trabalho, tem
atenção firme e perseverança. Desenvolve ações sociais significantes com os
vizinhos que moram perto de casa. É o momento onde a criança se
identifica com os elementos da ordem social e já tem
o domínio da cultura vigente ou, inversamente,
pode vir a se sentir inferior, alienada, rejeitada e
passiva quando não encontra seu espaço social.
NOVE AOS 12
ANOS. É o alvorecer do realismo e início
da idade da turma. A criança descobre que é membro da sociedade. É a idade dos trabalhos
em grupos, das amizades e dos bandos. Época apropriada para murais e
painéis feitos em grupo.
12 AOS 14
ANOS. É a fase da puberdade ou pré-adolescência.
Os pêlos crescem junto com o amadurecimento sexual. É um período de grandes diferenças
individuais e notórias mudanças físicas. Os hormônios do crescimento e sexuais
são produzidos em altas doses pelo organismo e esses impulsos que estavam em
repouso agora explodem. O adolescente já se sente adulto o que em determinadas culturas
isso é normal, pois já tem responsabilidades e liberdade sexual. Mas no modelo
cultural que vivemos isso não se dá nesse mesmo período. Então há um aumento da
tensão durante essa transição pois geralmente os jovens se sentem altamente
atraídos pelo sexo oposto e automaticamente são reprimidos pelos modernos
valores sociais. É o fim da arte como
atividade espontânea e o início do período do raciocínio. Entra a crítica de
suas próprias produções. É a idade da inquietação e excitação para o jovem
que não pode mais ser considerado como criança. Nem criança nem adulto. Agora
passa a se preocupar com o aspecto que tem, como se veste, com o que fala e principalmente,
está interessado em descobrir como parece para os outros. Investiga sua própria
personalidade. Poderá rir e chorar ao mesmo tempo, sem inibições. Um adulto que
agisse assim seria considerado, no mínimo, louco e insano. No desenho expressa
o realismo na representação da figura humana. Aparecem as dobras das roupas, as
luzes e as sombras marcando a geometria do corpo humano. Surge a caricatura dos
professores, pais e colegas numa crescente vontade de exprimir detalhes. Nessa
fase pseudonaturalista, uma das incumbências mais difíceis de um jovem talvez
seja desenhar a si próprio. Se ele mesmo tem orelhas grandes pode ser que as
exagere ou as suprima totalmente, ao mesmo tempo que as orelhas possam se
converter no ponto central da ridicularização caricatural. A arte não é mais
uma matéria no programa escolar; na XXXXXXXXXXXXXX expressão do aluno na sua
totalidade.
POR VOLTA DOS
13 ANOS geralmente é o período da decisão. O desenho é consciente mas ainda é
executado da mesma maneira que vinha fazendo nos últimos anos. Agora é a hora
do acréscimo de técnicas gráficas ao desenho pois a arte está no mundo, nas
paredes, painéis, roupas, embalagens, livros, vídeos, história em quadrinhos e
em muitos outros meios de comunicação e informação.
ADOLESCÊNCIA.
DOS 14 AOS 21 ANOS é uma fase de
tempestades, tormentas, revoluções e tensões. Agora o jovem vive uma crise psicossocial
onde necessita de uma identidade enquanto tenta divulgar essa personalidade em
construção. Precisam de ídolos e modelos. É a época do rock and roll e a
arte agora já é consciente. É o despertar ideológico pois tem que considerar o futuro
além de lidar com o presente. Testa o autoconceito que agora deve fazer face às
futuras demandas de sobrevivência na vida adulta. Deve encontrar uma ocupação
que se ajuste ao que ele sabe sobre si mesmo e ao que é valorizado pelos
outros. Fazer uma escolha envolve reexaminar pressupostos e questionar valores.
Tudo se constitui numa tarefa tão dura que muitas dessas questões de identidades
são resolvidas somente ao final da adolescência ou da juventude, já na
transição para a vida adulta. Para a maioria há uma progressão de um período
difuso de não-questionamento para outro de questionamento e dúvidas até uma etapa
final de realização e identidade. Em geral essas questões são pelo menos
temporariamente resolvidas. Existem jovens que se esquivam dessa progressão e
optam pelos valores e estilos de vida dos próprios pais sem argumentar ou
questionar, perpetuando assim, modelos. Vivenciar essa progressão, chegando a
uma identidade independente, é garantia de probabilidade de êxito e níveis de excelência
na atividade escolhida para viver em sociedade. Para muitos autores, o jovem
deve passar por um período de desequilíbrio, questionar os
sistemas existentes e buscar novos valores a fim de
alcançar formas mais elaboradas de desenvolvimento ético e moral e, finalmente,
chegar a uma verdadeira identidade individual ou pessoal. Todo esse processo é envolvido
por tempestades e furacões XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX três anos anteriores, se
não desenvolver seus dons artísticos.
A TRANSIÇÃO
DOS 21 ANOS. Da juventude à idade
adulta é um período de demarcação imprecisa. Não aparece muito nitidamente onde
começa e onde termina. É uma transição nebulosa. Aos olhos da comunidade o
jovem se torna adulto quando alcançou alguma independência da família e algum compromisso
com uma ocupação ou padrão de vida. E a época dessa transição também varia.
Depende da circunstância do jovem ir ou não para a universidade, viver em uma residência
separada dos pais, ter um trabalho producente ou outra variável significativa.
Em geral nesse período da vida ocorrem três mudanças importantes: A primeira, é
quando o jovem alcança algum tipo de identidade profissional e assume sua ocupação.
Começa a exercer uma profissão. A segunda, quando há mudanças envolvidas em se
viver separado da família. São adaptações que envolvem desde aprender a cozinhar
até pagar as contas de água e luz. A terceira é a importante mudança representada
pelo acasalamento ou por acordos de longo prazo semelhantes a um casamento, ou ainda,
como uma simples vida em comum.
DOS 21 AOS 40
ANOS. O princípio da vida adulta é ainda mais difícil de se estabelecer uma
marcação de quando começa realmente. Os períodos se tornam mais longos e as
transições nebulosas e imprecisas. As mudanças não ocorrem em idades específicas,
variando conforme o meio em que a pessoa vive e sua posição social. Isto é, se
ela está situada na classe operária, na média ou na alta. Fisicamente, para muitos,
a idade dos 40 é a primavera da vida. Entretanto, parece haver duas importantes
tarefas que os adultos devem enfrentar nesse período: amar e trabalhar. O adulto
precisa enfrentar as atividades de amar e trabalhar. Convivem a intimidade dos
relacionamentos num momento e, no outro, todo um trabalho em consolidar uma carreira
profissional. É o crítico período que coincide com o nascimento dos filhos. As evidências
sugerem que se alguém for bom numa delas provavelmente será bom na outra.
"O sucesso no trabalho em geral depende do sucesso no amor". Diz a
sabedoria popular. Cada estágio, cada tarefa é construída sobre a que a precedeu.
Quando uma parte da tarefa anterior fica inacabada, o adulto terá que carregar
como um excesso de bagagem na tarefa seguinte.
|
Autorretrato do artista uruguaio Joaquin Torres Garcia |
A TRANSIÇÃO
DOS 40 ANOS. A crise da meia idade é também mais uma transição nebulosa e vaga
sendo desencadeada não por mudanças fisiológicas ou cognitivas, mas por um novo
conjunto de mudanças que dependem se a pessoa casou e teve ou não filhos; se a
carreira estagnou ou decolou; se ainda vive com os pais ou não e, se a pessoa
sente algum declínio físico. Para muitos adultos, o acúmulo dessas e de outras
mudanças leva a um novo período de dúvidas. Por volta dos vinte e poucos anos o
adulto cria uma espécie de sonho ou fantasia do que será feito de suas vidas e
começam o árduo trabalho para isso. Por volta dos 40 anos fazem uma autoavaliação
que pode levar a uma sensação de perda ou fracasso. "O que fiz da minha
vida e o que desejo fazer com o resto dela?” são questionamentos comuns característicos
da crise da meia idade.
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Autorretrato do desenhista Moebius |
DOS 40 AOS 70 ANOS. É um enorme período, com muitas
mudanças, inclusive sendo amplas as diferenças individuais. Cedo ou tarde ocorrem
mudanças nos olhos, ouvidos, velocidade sináptica e outras tantas. Por exemplo,
as pessoas se permitem exprimir uma série de sentimentos e comportamentos que
tinham estado submersos durante toda a vida adulta. Se tornam mais equilibradas,
andróginas e menos apegadas a padrões sexuais estereotipados em relação ao
comportamento e atitudes. Isso é resultado de novos padrões hormonais associados.
As mulheres passam a ter menos estrógeno e os homens menos testosterona. Talvez,
biologicamente fiquem
mais parecidos hormonalmente um com o outro. Vários autores,
em entrevistas extensas com adultos nessa faixa de idades são unânimes em
afirmar que para muitos adultos esta é uma época de muita paz. Depois que os
filhos cresceram, se foram, depois de enfrentar sérios problemas, dúvidas, autoexames
da transição da meia-idade, pressão de obter sucesso na carreira e, que até um
certo padrão de vida confortável, tenha sido criado chega o momento de
desfrutar. É uma fase de satisfação tanto conjugal quanto com o trabalho. Passa
a existir o prazer. Para muitos, um renovado auto questionamento sempre acompanha
essas mudanças de papéis e de status. É o estágio da integridade do Ego ou,
inversamente, do desespero. É o resultado e a aceitação final do que a pessoa
fez e foi para aquilo em que agora se transformou. E essas questões não se
resolvem rapidamente e podem, não raro, permanecer como elementos sempre presentes
na memória. Em torno dos 70 anos é comum pessoas terem mais amigos do que os adultos
de meia idade. E essas interações sociais são muito significativas para a
continuação da saúde física e mental. Geralmente as pessoas vão ficando mais
introvertidas e menos envolvidas com relacionamentos à medida que envelhecem.
Os adultos se adaptam ao envelhecimento de forma relativa ao estilo de vida e,
com a resolução das crises anteriores. Alguns indivíduos experimentam um envelhecimento
físico acentuado bastante cedo na vida enquanto para outros isso só é
perceptível muito mais tarde.